sábado, 11 de março de 2017

Resenha: Logan






Mais do que um "fim" para a trajetória de 17 anos cinematográfica de Wolvernie, Logan(2017) marca também o fim de uma era para o personagem, tanto no cinema, quanto para nós, brasileiros. No primeiro ponto, é a saída do ator Hugh Jackman à frente do personagem que, ao longo de todos esses anos, o carro chefe da franquia dos X-Men, aparecendo em todas as produções dos mutantes, fosse como ponta, fosse protagonista. No segundo, é também a despedida do grande dublador Isaac Bardavid que, ao longo de quase 23 anos, com sua inigualável voz, ajudou a estabelecer a figura do mutante canadense na mente de milhares de fãs.


Findo esse aparte, voltemos para o ponto.

Diferente das outras passagens solo do personagem no cinema - o terrível e esquecível X-Men Origens: Wolverine (2009) e o bom, até a metade e depois muito ruim, Wolverine Imortal (2013) - Logan é a mais bem conduzida produção do personagem até o momento.




 Tirando inspiração do arco "O Velho Logan" (Old Man Logan, no original), o filme de James Mangold - que já dirigiu o longa anterior do personagem - nos apresenta um Wolverine envelhecido que, após a morte dos demais X-Men, trabalha como chofer de limusine numa cidade fronteiriça entre os EUA e o México. Isolado do resto do mundo, o mutante divide sua casa com Caliban (Stephen Merchant) e um envelhecido  Charles Xavier (Sir Patrick Stewart). A situação muda quando uma enfermeira de nome Gabriela (Elizabeth Rodriguez) vem pedir sua ajuda para proteger a jovem Laura (Dafne Keen), o que colocara o mutante canadense em rota de colisão com os Carniceiros liderados por Donald Pierce (Boyd Holbrook).

"Não estamos mais no Kansas"


 Já nos instantes iniciais o filme nos apresenta aquele que vai ser o tom geral de todo o filme, mas, antes de falar disso, vamos falar um pouco sobre a violência cavalar do filme.

Ainda que longe do nível de um Tarantino ou de um John Wick, Logan é um filme que se refestela com violência, algo que, sem dúvidas, foi possível graças ao sucesso estrondoso que foi Deadpool (2016). Assim, temos sequências de ação viscerais que ressaltam bem a natureza de seus protagonistas. Ainda nessa mesma linha, é importante notar que aqui temos um Wolverine com uma personalidade muito mais próxima da sua contraparte das HQs pois, ainda que seu temperamento explosivo e irascível tenha sempre aparecido nos outros filmes, ele era sempre atenuado em função do público alvo.

Contudo, o que realmente importa comentar é que esse pode ser um sinal para o começo de uma nova visão sobre o gênero, uma vez que, até o ano passado, um filme voltado para maiores de 18 anos era evitado por todos os estúdios por ser considerado uma empreitada financeira desfavorável.

E isso, indiretamente, me faz voltar ao ponto principal.

De longe, o aspecto mais importante de Logan está no fato dele ser um drama antes de um filme de ação, e um drama carregado com um forte senso de decadência melancolia que podem ser sentidos de uma forma quase palpável - seja na condição deteriorada da saúde do protagonista, seja nos cenários, sempre grandes, sempre desolados, que vão da aridez dos desertos e cidades ao silêncio lúgubre da floresta.Todo o filme, enfim, é permeado por uma ideia de fim inevitável que se aproxima cada vez mais  o que,  por sua vez, gera uma experiência única dentro do gênero de super-heróis.

Pois ainda que hoje tenhamos uma variedade absurda de produções nesse gênero, poucas são aquelas que conseguem oferecer algo como isso. De fato, tanto a Marvel Studios, aquela que detém uma posição de destaque por conta de suas produções, quanto a Warner, que desde o Homem de Aço pena para fazer um filme minimamente coeso, estão cada vez mais presas aos seus modelos e padrões de filmes - uma leve e descompromissada, outra, "séria" e "sombria" - oferecendo, ao seu público, aquilo que parecem ser sempre mais do mesmo.

Ao mesmo tempo, retomando a linha de pensamento do começo desta seção, é interessante notar como a Fox começou a alterar sua proposta de filmes, arriscando mais em produções para maiores de 18 anos o que, por sua vez, pode acabar virando um padrão do estúdio do mesmo modo como aqueles existentes na Marvel e Warner. 



"Mas mesmo os planos mais bem elaborados..."


Contudo, ainda que Logan seja de longe o melhor filme já feito com o personagem, nem por isso ele está a salvo de ter seus problemas - em especial, no uso/relação de personagens.
  
No uso, temos problemas que vão de Caliban - apenas presente no filme para atuar como ferramenta de roteiro para o avanço da história, à falta de algum vilão de peso. Pois, ainda que os Carniceiros possam servir para boa parte do filme, o encerramento do mesmo, ao menos do modo como o filme o propõe, pederia por algo ligeiramente mais grandioso, algo, de fato, que capaz de gerar um efeito climático para o encerramento do longa e da franquia. Do jeito como é feito, porém, o filme parece perder parte de sua força, ao mesmo tempo que nos trás amargas recordações do infame Origens.

Mas aquele que talvez seja o grande problema talvez seja o excesso de personagens no núcleo central. Mais especificamente a presença do próprio Xavier.

Não que haja algo de intrinsecamente errado com a presença do personagem no filme ou mesmo com a atuação do sempre incrível Patrick Stewart. De fato, ao contrário de Caliban, Xavier possnão só sentido no decorrer da história como também  uma função maior do que artifício de roteiro, sendo, ao mesmo tempo, a consciência moral\mentor de Wolverine, o mediador da relação entre Wolverine e Laura/X-23 e a primeira figura paterna da mesma.
Porém,  ao dar esse papel a Xavier, o filme, inadvertidamente, acaba retirando a força da relação entre Logan e Laura que só vai começar a se desenvolver efetivamente já perto do final do filme - o que lhe dará um tempo relativamente curto de desenvolvimento.

 Esses dois pontos, que por si só já seriam ruins para um filme se isolados, quando em conjunto, como é o caso do Logan, acabam por tirar muito de sua força, transformando aquilo que poderia ser um grande encerramento em algo meramente bom.

 

Finalmente:

De longe o melhor filme do Wolverine até o momento, Logan é também uma boa novidade dentro do panorama dos filmes de super herói - e uma que talvez seja capaz de influenciar futuros filmes de modo parecido com o que ocorreu com Guardiões da Galáxia ou a trilogia de Nolan, dentro, lógico, das devidas proporções. Mesmo assim, está muito longe de ser uma experiência como a apresentada pelos exemplos acima citados, ou um final que realmente faça jus a carreira de Jackman a frente do carro chefe dos X-Men.

Em resumo, um bom filme - e só.