Seguindo a receita de Star
Wars, Creed, o spin-off da saga Rocky é brilhante, tanto em atuação quanto em
roteiro, Stallone volta a boa forma e não toma a história para si, encontrando
em outro personagem a fórmula para garantir sucesso. Em 1990, Sylvester
Stallone escreveu e lançou Rocky V, foi a primeira tentativa de contar a
história de um Garanhão Italiano aposentado, quase falido após sofrer um duro
golpe e de volta as origens. Contudo, Tommy Gun (Tommy Morrison) não era o mais
humilde dos aprendizes e os erros do filme foram tantos que o Balboa novamente
acabou roubando a cena, o quinto longa foi um erro tamanho.
Balboa deixa o protagonismo e um novo Creed surge na rota da lenda. (Divulgação) |
Fugindo das raízes,
Stallone esperou exatos nove anos até confirmar que seguiria a história de dos
maiores pugilistas da ficção, deixou o roteiro, direção nas mãos de Ryan
Coogler e partiu para a preparação de uma atuação genial. Creed não é somente
um spin-off de Rocky Balboa, tem conteúdo, apresenta uma história de vida
subúrbio estadunidense, de um homem que abandona a vida fácil e vai para a
Filadélfia começar do zero, conhecer novas realidades e somar, além da
realização de um sonho que vinha de berço.
Michael B. Jordan dá vida
a Adonis Johnson Creed, o filho bastardo do maior pugilista da história do
boxe, Apollo Creed. Quando criança, o protagonista foi adotado pela viúva de
Apollo, que se esquece das mágoas e decide retirar o garoto do orfanato. Com a
vida ganha, Creed faz de tudo para buscar soluções fora do que ama, mas o boxe
o chama e ele troca a mordomia pela conquista de um sonho, que era fazer
sucesso no esporte sem que as pessoas soubessem o seu sobrenome. Buscando a
afirmação, Adonis vai ao lugar certo e na Filadélfia ressurge o Garanhão
Italiano, Rocky marcou época, se aposentou, novamente subiu aos ringues com
quase sessenta anos de idade e seguiu sua vida no quase anonimato, solitário,
doente.
O filme se apoia em três
perspectivas, a vida e sucesso de Adonis, o resgate de Balboa e a paixão por
Bianca (Tessa Thompson), uma humilde jovem apaixonada por cantar e que possui
uma rara doença que a deixará completamente surda. O drama de Creed é semelhante
ou até mesmo maior que o de Rocky: Um Lutador, nele temos um garoto que só
adquire o apoio de Rocky e Bianca, temos uma lenda com problemas da vida real,
Rocky têm câncer, uma garota com prazo de validade para a realização de um
projeto de vida e o desafio de se manter sem o sobrenome.
O longa recria o drama do
primeiro filme da saga Rocky, indicando uma nova história, porém mantém as
emocionantes e empolgantes cenas de treinos e lutas de boxe, quem não de fato
viveu aqueles confrontos não tem coração para compreender a magia do filme. Donnie
vence a primeira luta e já é colocado na disputa pelo cinturão, no duelo que
marcaria a despedida do então campeão, uma luta digna de Goodison Park, 'Pretty'
Ricky Conlan (Tony Bellew) é torcedor assíduo do Everton. Se um dia Rocky foi
azarão diante de Apollo, dessa vez o novo Creed passa a ser a zebra, diante de
um campeão no auge de sua forma.
Além das expectativas e
preparação para a luta, Adonis batalha em duas frentes, a primeira é focando na
batalha de sua vida contra Conlan e a segunda é, junto com Balboa, no confronto
final do seu treinador contra o câncer que já havia vencido Adrian. As cenas do
tratamento de Rocky são muito emocionantes, que atuação impecável de Sylvester
Stallone, como um dos dinossauros do cinema atual conseguiu se reinventar e
voltar a rota da boa crítica, bastante impressionante, digno de aplausos e
merecedor de todos os prêmios.
Stallone impecável e Jordan injustiçado, eis os destaques do spin-off. (Divulgação) |
O final do filme nos
remete aos clássicos da saga original, uma luta emocionante, um duelo para lá
de surpreendente e vitória... Do campeão, apesar de campeão Rocky é um perdedor
nato e Creed escolheu o técnico certo. Talvez se tivesse sido o seu pai
facilmente ele teria evoluído com maior rapidez, mas o desfecho da história
deixa brechas para continuações. Creed: Nascido Para Lutar é nostálgico, é bem
feito, é certeiro! Uma pena a injustiça da crítica em não mencionar Michael B.
Jordan entre os indicados a melhor ator, ele foi muito bem.
Ao deixar Creed nas mãos
de Coogler, Stallone foi impecável, se preocupou apenas com sua atuação e a adaptação
de Rocky Balboa ao se tornar apenas um coadjuvante, ele é o grande destaque do
filme mesmo não tomando as rédeas da história. Creed vale o ingresso, vale o
sobrenome de Apollo e vale a luta de Rocky Balboa pela vida, por mais solitária
e injusta que ela possa ser. Temos uma obra fantástica em qualidade, como não tínhamos
há um bom tempo.
Nota:
10/10