quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Resenha: A Tumba do Drácula (Os dois volumes)

 O ano de 1971 tem uma grande importância para as histórias em quadrinhos. Afinal, foi em Janeiro desse ano ocorreu uma das primeiras revisões no Comic Code Authority, o famoso "código de ética" que, desde 1954, ditava aquilo que poderia ou não ser publicada nas páginas de uma história em quadrinhos. 
Como resultado desse reforma, houve a liberação, para as HQs de um modo mais amplos, de certas temáticas do horror - como vampiros, lobisomens e mais algumas assombrações - desde que houvesse um background literário que desse legitimidade a tais temas.
 Essa liberação foi prontamente aproveitada pela Marvel Comics que, nos anos seguintes, lançou aquilo que viria a se tornar o ramo de horror de seu universo. Dessa forma, estreiam personagens como o Lobisomem (em 1972), o Motoqueiro Fantasma (1972) e aquele que vem a ser o foco de nosso presente post, o Conde Drácula.

O Príncipe das Trevas vem ao mundo do universo Marvel pela primeira vez em Abril de 1972 na série mensal A Tumba de Drácula (Tomb of Dracula) que vigorou até Agosto de 1979 com um total de 70 edições - sendo, de longe, um dos títulos de maior sucesso dessa nova linha de horror da editora - além de ser considerada por muitos como uma das melhores séries dos anos 70 da editora.

E são as primeiras histórias dessa saga que a Panini Comics reapresenta aos novos e velhos leitores em sua linha Marvel Terror.







Volume 1:


Neste primeiro volume - que engloba as edições 1-6 da série Tomb of Dracula, - temos a apresentação geral da história, tanto com seu mote, quanto com seus personagens principais.
Basicamente acompanhamos a jornada de Frank Drake - um descendente direto do Conde Drácula que, se encontrando diante de grandes problemas financeiros, decide transformar o castelo da família em ponto turístico. Para isso, ele parte para a Transilvânia na companhia de sua namorada, Jean, e de seu fiel amigo, Clifton Graves. No entanto, durante uma inspeção do imóvel, Clifton ressuscita o Príncipe das Trevas, dando início ao título propriamente dito. 
Deste ponto em diante, vemos Drake perseguindo o Conde mundo afora na tentativa de destruir o mal libertado por seu projeto. Ao longo do caminho, ele contará com a ajuda de Rachel Van Helsing - bisneta do homem que matou Drácula  pela primeira vez - e seu ajudante mudo, Taj, para a realização de tal intento.

O grande problema dessa edição não é a gigantesca quantidade de texto - algo bem comum para os anos 70 - ou a qualidade das histórias em si, mas a falta de coesão entre suas histórias. O tom das narrativas muda muito de uma edição para a outra e isso graças a grande mudança de roteiristas que o título sofreu no seu início - somente nessas seis primeiras edições temos 4 escritores diferentes: Gerry Conway, Roy Thomas, Archie Goodwin e Gardner Fox. Essa mudança, além de não permitir que a série assumisse um tom definitivo ou mesmo uma direção certa, também não permite um desenvolvimento dos personagens ou de temas, de modo que, ao menos nesse primeiro momento, teremos histórias bem "simples" e personagens um tanto quanto rasos.

O ponto de coesão dessas histórias - e que, ao menos neste primeiro momento, carrega o título nas costas - é a arte espetacular do Gene Colan que consegue dar a atmosfera certa para a série, conseguindo dar aos ambientes e quadros o ar gótico que uma autêntica história de terror merece, ao mesmo tempo que consegue captar bem toda a áurea em torno da figura do Conde - inspirado no ator Jack Palance.

Também nesse primeiro volume temos duas histórias publicadas originalmente na revista Dracula Lives #1 que contam com roteiro de Gerry Conway e de Steve Gerber e que, verdade seja dita, são as verdadeiras pérolas deste volume. Apesar de ter sido publicada no mesmo período de TOD e apresentar o mesmo personagem principal, Dracula Lives apresentava histórias independentes do título principal - e, em geral, auto contidas.Em preto e branco, as histórias conseguem desenvolver melhor a noção do Príncipe das Trevas solto nos anos 70 - que seria o presente da época - tendo um clima perfeito e com a mesma arte magistral da série principal - a primeira história continua a cargo de Colan, enquanto que a segunda, de Gerber, a arte fica a cargo de Rich Buckler

Também vale notar que são nessas histórias em que Drácula é melhor desenvolvido, se tornando um personagem interessante e complexo, ao invés do monstro assassino padrão das histórias precedentes. 


Assim sendo, de uma maneira geral, esse primeiro volume da série não é o bastante para mostrar o porquê da série ser levada em tão alta conta. Apesar de ter uma boa história e uma arte fantástica, esse primeiro contanto não tem o bastante para cativar o leitor de imediato, ou sequer para mostrar o porquê dessa série ter vindo ao mundo. De fato, essa seria a minha impressão da série caso, alguns meses depois, eu não houvesse decidido dar uma segunda chance a TOD e  dado uma conferida no...


Volume 2:

Abrangendo as edições 7-14 da série, temos a estreia de Marv Wolfman nos roteiros - e é aqui que a série realmente começa.

Dando continuidade aos eventos do volume anterior, continuamos a acompanhar a caça ao vampiro efetuada pelos três heróis da edição anterior, aos quais se unem as presenças de Blade - em sua primeira aparição no mundo dos quadrinhos - e Quincy Harker - o filho de Mina e Jonathan Harker do romance de Bram Stoker.

Já nas primeiras histórias é visível a mudança que passada no título. Não só o tom das histórias se torna mais coeso entre si, como também seu ritmo e desenvolvimento se torna mais uniforme. Além disso, a caracterização dos personagens se torna mais intensa, dando mais interesse a cada um. Sob as habilidosas mãos de Wolfman, a figura de Drácula se torna mais desenvolvida. Saí o monstro sanguinário, e entra um monstro mais sofisticado e maquiavélico, nobre até, e, talvez justamente por isso, infinitamente mais terrível. Ao lado dele, Blade e Harker roubam a cena desse encadernado, revelando-se personagens mais interessantes do que o trio original de heróis. Como consequência desses elementos, as histórias vão se tornando mais interessantes, marcando uma nítida evolução em relação ao volume 1.

Ao lado dos roteiros de Wolfman, continuamos com o trabalho maravilhoso de Gene Colan, afiado como sempre. Essa parceira, uma das mais duradouras e memoráveis dos quadrinhos, iria se estender até o fim da série.

Sob todos os aspectos, é neste volume que a série mostra o porquê de ter vindo ao mundo. Em termos de roteiro e arte,  TOD se aproxima de seu auge, sofrendo uma evolução gritante com relação ao seu começo. Deste momento em diante, as histórias vão crescendo em escopo - o que eventualmente irá levar o Conde a encontrar com outras figuras do Universo Marvel, como o Lobisomen  e o Dr.Estranho - assim como em na narrativa propriamente dita, se tornando uma leitura deveras prazerosa.


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Assim sendo, o veredicto final é, caso você não tenha lido ainda essa série, corra atrás dela. Pois, ainda que o volume 1 seja mais fraco que o seu sucessor, a série como um todo é digna de leitura - se não pelos roteiros, ao menos pela arte de Colan.

Coleção Marvel Terror: A Tumba do Drácula é uma publicação da Panini Comics. O Volume 1, tem 164 páginas ao preço de R$ 21,90. O Volume 2, 164 páginas e R$ 22,90.