quinta-feira, 2 de julho de 2015

Ela – Resenha Crítica

Depressivo, exagerado e doentio, o filme Ela foi lançado no início de 2014, dirigido por Spike Jonze (O Lobo de Wall Street) e protagonizado por Joaquim Phoenix e Scarlett Johansson. O filme trata da pior das patologias que assolam a humanidade, a chocante depressão. Não foi à toa que o filme conquistou o Oscar de melhor roteiro original no ano passado, a que ponto o homem chegou, sua luta contra a vida e a solidão, os paliativos trazidos por um sistema operacional e as desilusões amorosas são retratados em duas horas de longa.
Um tema chocante intriga o espectador em Ela. (Divulgação)
Theodore Twombly (Phoenix) era um homem animado, vivia uma vida plena com sua esposa Catherine (Rooney Mara), o tempo passou e o casamento acabou não dando certo. Tomado pela depressão, Theodore se refugiou dentro de casa, viciado em tecnologia e completamente antissocial, o protagonista encontrou carinho em um sistema operacional que ouvia e conversava sobre os seus problemas, o remédio certo para curá-lo dos problemas pessoais. Errado! O sistema é nada mais nada menos que algo produzido justamente para isso, indicar às pessoas aquilo o que elas gostariam de ouvir, construindo falsas expectativas e gerando pessoas cada vez mais doentes.

O ponto crucial acontece na cena em que Theodore está no apartamento de Amy (Amy Adams, deram um nome bastante original para a atriz), onde o nosso protagonista observa atentamente a amiga conversando com seu “amigo imaginário” ou somente sistema operacional. Ou seja, o programa alivia as dores dos seres humanos, mas indicam dificuldades dos mesmos em lidar com situações reais, Theodore vai perdendo a vontade de viver e de se relacionar, mesmo sem perceber, pois está encantando com o programa chamado de Samantha.

Apesar dos problemas, o roteiro é muito intrigante e espetacular, observa-se um homem reencontrando a felicidade (mesmo momentânea) e também não dá para ter certeza se Samantha era diferente dos outros sistemas ou ela só falava o que lhe era programado. Além disso, a relação de Theodore com Catherine ia de mal a pior, ainda mais quando a ex-esposa descobriu que o antigo esposo estava tendo uma relação afetiva com um programa de computador. A discussão é interessante e levanta a ideia de que Theodore nunca esteve preparado para ter uma relação com a realidade, para lidar com os conflitos e dificuldades de um relacionamento, ele vivia em um mundo paralelo e solitário.
Joaquim Phoenix, Amy Adams e Scarlett Johansson protagonizam Ela. (Divulgação)
Em meio a uma sociedade líquida proposta por Zygmunt Bauman, onde as relações estão cada vez mais descartáveis e menos duráveis, uma verdadeira fragilidade entre os laços humanos. O relacionamento entre Theodore e Samantha apresenta algo mais duradouro, o mesmo afirma estar vivendo a melhor relação após o casamento, resta entender se isso acontece graças a Samantha ser um computador e só falar o que ele gostaria de ouvir ou se o SO possuía algum tipo de alma que a fazia interagir de forma sincera e que realmente desejava ser uma pessoa física. Se levarmos para a vida real, presenciamos e participamos dessa realidade, onde quase todas as pessoas passam horas em celulares, computadores e demais equipamentos, optam por conversar com os demais através das redes sociais do que diretamente, presencial, ao vivo. É tão depressivo quanto a vida de Theodore.

Por fim, temos Samantha dispensando Theodore e todos os demais sistemas operacionais abandonando os internautas que sobreviviam graças à interação com o SO. E é nesse desespero de viver sem Samantha que Theodore indica chegar ao final de sua vida, confirmando a depressão e o medo de se relacionar com a realidade. Theodore envia um email para Catherine e encerra o filme subindo, junto a Amy, a cobertura do prédio, mais uma vez nós somos surpreendidos. Amy e Theodore encerram o filme consolando um ao outro, tristes e se apoiando na relação humana, é surpreendente, é espetacular!

Nota: 8/10