domingo, 28 de junho de 2015

Resenha: Aquaman - As Profundezas

Criado em 1941 por Mort Weisinger e Paul Norris, Aquaman  é, sem sombra de dúvidas, um dos personagens mais injustiçados das HQs. Parte de seu infame título de inútil - ou sem graça - se deve, em parte, ao clássico desenho Os Superamigos (1973-1985) da Hanna-Barbera, responsável por apresentar ao público a existência desse e de muitos outros personagens do universo DC.

Com o intuito de rever esse conceito, e como parte do projeto da DC Comics de promover um relançamento de títulos conhecido como Os Novos 52, Geoff Johns e Ivan Reis nos apresentam a nova série do rei da Atlântida, cujo primeiro arco agora se encontra reunido no belo encadernado pela Panini Comics sob o nome de Aquaman - As Profundezas.

E este será o alvo de nossa resenha.




Como de costume, antes de iniciarmos a resenha em questão, segue uma breve sinopse da história: Após esgotar por completo toda possível fonte de alimento disponível em sua região abissal, uma raça de criaturas marinhas ruma para o mundo da superfície, buscando uma nova fonte de alimentos que possa assegurar a sua sobrevivência. Essa decisão os coloca em rota de colisão com o monarca dos mares - e também protetor do mundo da superfície - e sua esposa, Mera, fazendo com que ambos se vejam com uma questão delicada em mãos: poderiam eles sacrificar toda uma razão em benefício de outra? Ao fim dessa história principal, que ocupa 4 edições do encadernado, temos outras duas que irão servir como ponta para o próximo arco.

E aqui termina a nossa sinopse.

Basicamente, As Profundezas é vítima de três grandes problemas. Os dois primeiros são intrínsecos à HQ; o terceiro, no entanto, é originado da minha própria ignorância quanto ao personagem e à sua história - mas que ainda assim precisa ser mencionado.

No primeiro caso, teremos dois problemas: o primeiro, é o ritmo da narrativa; o segundo, a repetição de tema.Falemos primeiro da questão do ritmo.

As histórias desse primeiro arco tem um ritmo absurdamente rápido, sendo possível ler as 144 páginas do encadernado em uma sentada só. Isso, porém, não é algo bom. Na verdade, é completamente prejudicial a história, uma vez que não só não permite que o leitor tenha tempo para assimilar o que está acontecendo, como sacrifica em muito não só o desenvolvimento de personagens, como também todo e qualquer desenvolvimento que a história poderia ter. Conflitos se iniciam e se resolvem de forma muito rápida,personagens são apresentados e logo jogados para escanteio, cenas de ação entrecortam-se com mais cenas de ação, quando não entrecorta momentos de desenvolvimento, temáticas são jogadas o tempo todo e empurradas para depois, e assim por diante. Como consequência disso, temos histórias cheias de  um grande potencial que nunca chega a se realizar por completo, pior, que é desperdiçado.

Como exemplo claro disso, temos as criaturas das profundezas que, sob qualquer outra circunstância, poderiam enriquecer e render uma ótima história, mas que aqui são simplesmente relegadas à função de zumbis dos mares. O próprio "dilema" de Aquaman em relação à preservar ou não tais criaturas, é tratado de uma forma tão superficial - e tem uma resolução tão medíocre - que nem sequer poderia se enquadrar como um dilema. 

Mas talvez nenhuma outra história sofra tanto com essa questão de ritmo quanto à história de Mera - a edição final compilada neste encadernado e que, de longe, poderia ser a melhor. Nesta história, somos apresentados à estranha situação da personagem que, tendo nascido e crescido em Atlântida, não consegue entender o mundo da superfície no qual agora vive. Essa situação de estranheza rende momentos interessantes, mas o ritmo da história atrapalha todo e qualquer desenvolvimento que a história poderia ter.

De uma maneira geral, parece que a grande intenção por trás dessa nova série é mostrar ao mundo e a todos os leitores possíveis o quão errados eles se encontram com relação ao Aquaman, priorizando a ação acima de qualquer outra coisa. Essa ideia ganha ainda mais respaldo quando paramos para ver o segundo problema da repetição de tema.

Ao longo de praticamente todas as histórias deste volume, vamos ver alguém zombando ou ridicularizando o Aquaman ou Mera. Por um lado, essa ideia é bem interessante, dando uma noção de como o mundo vê o personagem - chegando a seu melhor momento quando, durante uma entrevista com o senhor dos mares, a infame "como você se sente sendo o herói favorito de ninguém?" - e servindo para dar um pequeno aprofundamento no personagem. Porém, essa ideia é repetida tantas vezes ao longo da história, que logo perde completamente o sentido, aborrecendo tanto o leitor quanto ao protagonista do título.

O pior, no entanto, é que essa é a única forma que a história apresenta para nos aproximar do personagem, uma vez que ela não perde tempo com explicações muito longas sobre sua origem, vida e atual situação - um mal que aparente paira em quase todos os títulos de Os Novos 52. E esse é justamente o pecado mais grave da história.

Pois,  para todos os fins, Aquaman já é um herói - e rei - formado e, caso você nunca tenha lido uma história, ou não conheça nada, do personagem, é bastante provável que você venha a se sentir perdido, uma vez em que não existe nenhuma tentativa de criar uma base ou ligação do personagem com o leitor mais novo - algo também relativamente comum no mundo de Os Novos 52.

Isso, talvez, seja algo que eu tenha sentido devido à minha própria ignorância com relação ao personagem, mas mesmo assim acredito ser algo digno de nota.

No mais, quanto à história em si, ela não chega a ser ruim, mas também não chega a ser boa - muito disso se devendo aos problemas apresentados acima. De longe, o mais interessante no encadernado é a arte sensacional de Ivan Reis, principalmente no tocante às criaturas das profundezas, e ao excelente acabamento do mesmo, principalmente levando-se em conta o preço.




Aquaman - As Profundezas da Panini Comics, tem 144 páginas e preço de R$ 25,90.