sexta-feira, 1 de maio de 2015

Demolidor - Primeira Temporada - Crítica

Quando foi anunciado que a Netflix iria criar junto com a Marvel e a ABC 4 séries baseadas em seus personagens, houve uma grande comoção em torno do assunto. Afinal, iríamos ver pela primeira vez um núcleo mais urbano da Casa das Idéias, além de vermos também pela primeira vez alguns personagens não muito conhecidos pelo grande público. Nessa seleta lista - que futuramente irá formar a equipe Os Defensores em uma nova série -, teríamos Luke Cage, Jessica Jones, Punho de Ferro e Demolidor. O Homem Sem Medo, no entanto, possuía um fator que o colocava em desvantagem com relação aos demais heróis urbanos: o filme de 2003 estrelado por Ben Affleck e cometido por Mark Steven Johnson. Assim, enquanto os demais personagens contavam apenas com o anonimato contra eles, o Demolidor carregava o estigma da infâmia devido a produção de 2003, de modo que é compreensivo o grande clima de curiosidade que se formou em torno da sua série.

Tal curiosidade - e, por que não, receio - só teve  fim no dia 10 de Abril. Pois, eis que surge o Demolidor.

Demolidor foi a primeira parceria entre Marvel e Netflix. (Divulgação)


Após estabelecer seu universo principal com diferentes graus de sucesso - sim, estamos falando da franquia Thor aqui - chegou a hora do MCU rumar para o outro lado moeda. Saem então, os super-seres e toda a pompa que rodeia o seu mundo e entra o mundo mais próximo ao nosso de cada dia - onde traficantes de drogas e de pessoas, assaltantes e assassinos tomam os lugares dos supervilões e seus planos mirabolantes.

Através de um enredo fascinante e do belíssimo trabalho de fotografia - que nos brinda com cenas incríveis como a da luz do outdoor que se infiltra pela sala de Matt Murdock, lembrando bastante alguns painéis do Alex Maleev - testemunhamos a construção deste outro mundo que mais lembra uma história policial do que uma aventura de super-herói propriamente dita. É um mundo sórdido e sombrio, permeado de violência, tal qual aquele estabelecido por Frank Miller durante sua incrível passagem pelo título do Homem Sem Medo, nos anos 80, e que virou uma das marcas do personagem desde então. Um mundo onde a corrupção se infiltra em cada um dos níveis sociais, sejam eles políticos, empresários, policiais ou simples traficantes e que, ao menos à primeira vista, não exista nada que um homem possa fazer à respeito.

Porém mesmo estando em um polo tão extremo do mundo dos super-herois, esse mundo não se encontra completamente à parte do outro, uma vez que foi a própria invasão de Nova York no filme dos Vingadores que permitiu que tal mundo viesse a existir na forma do grande plano de Wilson Fisk. De fato, sob todos os aspectos, o mundo do Demolidor nada mais é do que uma sombra deste outro, e talvez por isso ele se apresente de um modo tão sórdido e cruel, e ganhe uma força tão desconcertante ao longo da história, pois enquanto os super-heróis protegem o mundo, quem protege os cidadãos comuns em seus afazeres cotidianos?

A transformação do heroi durante a
 temporada. (GIF: Divulgação)
Também em consonância com o mundo dos herois, vemos os primeiros vislumbres de um flerte com um outro, este permeado por magia, sob a forma da organização ninja Tentáculo - algo que muito provavelmente será trabalhado em futuras temporadas - e de alguns personagens que ao que tudo indica, serão trabalhados futuramente na série do Punho de Ferro - mantendo a tradição do MCU de manter seu universo coeso e interligado.

Nesse mundo, acompanhamos a carreira de Matt Murdock (Charlie Cox), advogado durante o dia e vigilante durante noite. Enquanto tenta limpar as ruas de seu bairro - a Cozinha do Inferno, ou Hell´s Kitchen - ao mesmo tempo em que busca desbaratar o grande  esquema elaborado pelo misterioso Wilson Fisk (Vincent D´Onofrio). Ambos, no entanto ainda se encontram em seu começo de carreira, o que termina gerando um efeito interessante no decorrer da trama, onde vemos um Murdock disperso e violento passar a se tornar focado e ligeiramente menos violento, enquanto que o oposto se abate sobre Fisk à medida em que seu plano começa a vir abaixo. Ao longo desse caminho, é sedimentada a longa - e clássica - relação de ódio entre essas duas figuras. 

Pessoalmente, acredito que a queda de Fisk ao menos como apresentada na presente série, se ocorreu de forma muito apressada, ainda que tenha servido para os fins da série - mas, para não desvirtuar muito o ponto da postagem, falarei mais sobre isso uma outra hora.

Ainda no tocante à esse início de carreira, não veremos a clássica roupa vermelha, ou sequer o nome do vigilante até o episódio final. Quanto ao seu antagonista, também não vestira a clássica roupa branca até o final da série. Ainda que num instante de grande inspiração vejamos uma sutil gradação nos tons escuros de suas vestimentas durante o seu desenvolvimento.

Vincent D'Onofrio e o seu espetacular Wilson Fisk.
(Divulgação)
No entanto, engana-se aquele pensar que a série se foca apenas na construção dessa relação entre seus personagens principais. De fato, a grande quantidade de histórias que ocorrem em paralelo à jornada do Demolidor são tão interessantes quanto à principal. Seja na busca mútua do jornalista Ben Urich (Vondia Curtis-Hall) e de Karen Page (Deborah Ann Woll) pela verdade sobre Fisk; seja nas aventuras jurídicas de Murdock Foggy Nelson(Elden Henson); seja nas reuniões do submundo, onde se destaca a figura de Wesley (Toby Leonard Moore), fiel ajudante de Fisk - e um dos melhores personagens da série -; seja no breve interlúdio onde somos apresentados à figura de Stick ( Scott Glenn) e vemos leves insinuações sobre o Tentáculo; até mesmo no desenvolvimento amoroso de Fisk com Vanessa (Ayelet Zurerb), vemos o que um bom roteiro pode fazer - tanto em termos de narrativa quanto de desenvolvimento de personagens.

À exceção à regra, no entanto, se encontra em Claire Temple (Rosario Dawson), a Enfermeira da Noite, que apesar de dar a entender que teria grande importância no começo da série, acaba tendo seu papel resumido à aparecer sempre que o protagonista precisa de tratamento médico. Ainda assim, resta a esperança de que a personagem venha a aparecer futuramente na série de Luke Cage, onde talvez venha a ter um tratamento melhor.
Charlis Cox faz todos os fãs esquecerem Ben Affleck e seu Matt Murdock. (Divulgação)
Mesmo o melhor dos roteiros pode ser arruinado por atores ruins, mas não é isso o que acontece aqui. De fato, temos aqui, sem sombra de dúvidas, um dos melhores elencos já vistos em uma série desse tipo, com cada ator conseguindo captar bem a essência de seus personagens. Dentre eles, Vincent D´Onofrio é o que mais se sobressai, dando ao seu personagem o tom exato que deu ao Rei do Crime o grande respeito que ele usufrui até hoje no Universo Marvel. Sua construção do personagem é talvez até mais fascinante do que a do Demolidor, uma vez que ele não se assume como vilão da série até os instantes finais do episódio final.

Para finalizar, vale  ressaltar à quantidade absurda de easter eggs presente na série que com certeza vai agradar aos fãs, fãs desocupados - ou simplesmente os desocupados de plantão.  As referências vão das coisas mais conhecidas - como a garota grega mencionada por Foggy em dado momento - até as mais obscuras - ou será que alguém aqui ainda se lembra da organização criminosa Zodíaco, liderada por Cornelius Van Lunt - também conhecido como Taurus?

Veredicto - por unanimidade do júri - 10


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Pois bem, essa foi a crítica da série, para aqueles interessados em ler algo relacionado ao Homem Sem Medo, seguem duas postagens antigas do blog:


Na minha próxima postagem, eu prometo lhes mostrar algo lindo...