segunda-feira, 9 de março de 2015

O Jogo da Imitação – Resenha Crítica

Indicado a várias estatuetas no Oscar 2015, O Jogo da Imitação confirma o status de grande filme ao apresentar uma história intrigante e surpreendente durante as duas horas de longa. Benedict Cumberbatch protagoniza Alan Turing, um gênio da matemática que se descobre gay na infância, durante os anos escolares, e passa conviver com um duro dilema ao ser contratado pelo exército britânico na luta contra a Alemanha na segunda grande guerra.
O Jogo da Imitação cumpre com o prometido, não decepciona. (Divulgação)

Na Segunda Guerra, Turing é um dos gênios contratados para decifrar a máquina Enigma, na qual o exército alemão se comunicava por meio de códigos, coube aos matemáticos britânicos criarem uma máquina que pudesse ultrapassar essa barreira, decodificando as mensagens e entendendo cada passo que os alemães davam na dura batalha que marcou o século XX. Com um aspecto bastante fechado e arrogante, Alan Turing colecionou vários inimigos, da escola ao ambiente de trabalho.

Tal arrogância tratou de ser vencida durante a época em que ele batalhava na máquina de decodificação, isso porque sua equipe, Joan Clarke (Keira Knightley), Hugh Alexander (Matthew Goode), John Cairncross (Allen Leech) e Peter Hilton (Matthew Beard), passou a conhecê-lo e decifrá-lo para entender como lidar com seu comportamento complexo, trabalho semelhante ao que o mesmo se empenhava na máquina de guerra.

Passada boa época de trabalho, Turing cria afeição por seus companheiros de equipe, valendo o destaque para sua personalidade egocêntrica e fria. Sua afeição chega ao ápice quando ele pede em casamento Joan, ele faz isso para que sua companheira não retorne para sua cidade e para que continue o ajudando no trabalho, Joan era uma jovem de 25 anos que sofreu preconceito por ser a única mulher contratada para decifrar a Enigma, Turing noivou com Joan mesmo sendo homossexual.

Graham Moore rece o Oscar de melhor roteiro adaptado,
a única conquista do filme na noite. (AFP)
O filme se passa em três cenários, divido por épocas, a primeira representa o presente, onde Turing mora sozinho e segue trabalhando na sua principal criação, a máquina Christopher, sendo repreendido pela polícia e tentando entender os limites de homem e máquina. O segundo cenário representa a época em que Alan trabalha na criação e desenvolvimento do computador, sendo muito pressionado pelo exército britânico, obrigado a manter sigilo e se segurando para se manter no anonimato. Por fim temos o cenário que retrata juventude de Alan Turing, a época em que sofria na escola, é também no colégio que o jovem gênio conhece Christopher Morcom (Jack Bannon), o único garoto que deu atenção a Alan, resultando num romance que termina de forma trágica, Christopher acaba falecendo e Alan o homenageia batizando de Christopher o nome de sua principal invenção.

O final é realmente surpreendente, temos a descoberta de um sistema de computadores que utilizamos nos dias de hoje, temos a Segunda Guerra Mundial sendo encerrada muito antes do que se esperava, temos a triste separação da equipe e o fim deprimente de Alan Turing. O gênio complexo é condenado pelo governo britânico por indecência (homossexualidade era considerado um crime a pátria na época) e como sentença, ele recebeu duas opções, passar dois anos na prisão ou passar por um doloroso tratamento de castração química, uma barbaridade tão cruel quanto os campos de concentração alemães.

Alan Turing não resistiu ao tratamento e acabou se suicidando em 1954, aos 41 anos de idade. A operação foi mantida em sigilo durante 50 anos e Turing recebeu o perdão real por meio da Rainha Elisabete II. Trama muito bem roteirizada por Graham Moore, não é a toa que o mesmo ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado, apesar disso, O Jogo da Imitação recebeu oito indicações, mas só conquistou uma estatueta. Destaque para a atuação digna de Oscar de Benedict Cumberbatch, é por atuações como esta que o ator confirma porque representa a nova moda de Hollywood. O bom Charles Dance interpreta Alastair Denniston, um rígido militar que não vai com a cara de Alan, protagonizando ótimas cenas de diálogo no longa.
Benedict Cumberbatch dando vida a Alan Turing, mais uma atuação impecável, apesar das diferenças físicas com o matemático. (Divulgação)
O Jogo da Imitação foi um filme que prometeu desde o trailer e cumpriu com o prometido, é muito melhor que Birdman, mas acabou injustiçado pela Academia. Contudo o filme é um pouco parado, no melhor estilo dos filmes de guerra, prejudicando o desenrolar da história, mas nada que comprometa a sua qualidade, até porque as duas horas não são tão sentidas como as longas horas de Interestelar (na minha opinião, o principal injustiçado do Oscar 2015). O Jogo da Imitação vale o preço do ingresso, vale pela excelente e sofrida história de Alan Turing, pela fantástica atuação de Benedict, pelo desfecho da Segunda Guerra Mundial e pelo desenvolvimento dos computadores.

Até a próxima!

Nota: 9,0.