segunda-feira, 9 de março de 2015

Castlevania: Lords of Shadow - Análise

Saudações, fieis leitores! Após uma longa ausência, retorno mais uma vez a estas paragens cibernéticas. Desta vez, iremos continuar a falar sobre jogos. Esta não será, no entanto, a segunda parte da Trilogia de Arkham - que ficara para um futuro não muito distante, porém bastante indefinido. Ao invés disso, irei falar sobre um dos últimos filhos de uma longa franquia. Em suma, falaremos sobre o ótimo Castlevania: Lords of Shadow.Então, se mais delongas, vamos logo com isso.
P.S: É bem provável que os textos a seguir contenham spoilers, então, sigam por sua conta em risco.





O ano é 1691. O guerreiro com chicote atende pelo nome de Simon Belmont. Sua missão, entrar no castelo e matar seu proprietário, o terrível Drácula.
Com esta premissa, foi lançando em 1986, o primeiro jogo daquela que viria a se tornar uma das mais longevas - e reconhecidas - franquias da Konami, a série Castlevania. Desde então, o clã Belmont tem atravessado os anos - e séculos - em sua luta contra o Princípe das Trevas, e de tal modo que é possível encontrar ao menos um título da série em cada geração de videogames - mesmo com reclamações de alguns fãs mais puristas com relação à mudança do visual em 2D para 3D.
Com isso em conta, e considerando que os 25 anos da franquia se aproximavam, era hora da Konami fazer uma nova investida com a série. Após uma série de incríveis eventos, a empresa japonesa acabou por confiar o desenvolvimento do novo título à espanhola MercurySteam que tratou de fazer uma renovação da série. O resultado, é o "reboot" Lords of Shadow, sobre o qual iremos falar mais agora.

P.S.2: Como dito ainda há pouco, o jogo é um reboot da série, logo, não entraremos em detalhes quanto à série clássica.

História:





O jogo começa com Gabriel Belmont, um membro da Irmandade da Luz, enviado em uma missão de extrema importância. Ele deve encontrar e matar cada um dos três Senhores das Sombras - daí vem o título do jogo - que envolveram a Terra com um poderoso feitiço que a separa por completo do plano divino, deixando a pobre humanidade a mercê das mais horrendas e sinistras criaturas das trevas. No entanto, não é só de altruísmo que se constitui a jornada do patriarca dos Belmont, que possuí um motivo bem mais pessoal para seguir em sua jornada. Atormentado pela culpa por não ter conseguido impedir o brutal assassinato de sua esposa Marie, Gabriel procura uma forma de trazer sua amada de volta dos mortos - uma forma cuja existência foi garantida pela própria Irmandade.Assim, a jornada do protagonista é antes uma jornada de auto-redenção do que salvamento.

No entanto, a medida em que o jogo avança, vamos descobrindo que as coisas não são tão simples quanto aparentevam ser em um primeiro momento. O próprio mal que Gabriel busca erradicar não tem nenhum outra origem senão dentro das próprias fileiras da Irmandade da Luz. De fato, os Senhores da Sombra não mais são do que os fundadores originais da ordem que, em sua ânsia para ascender à um plano superior de existência, ignoraram o fato de que, ao realizarem tal travessia, teriam que abandonar uma parte si, parte esta que acabou por gerar o mal que agora se abate sobre o mundo.

E é a partir daqui que vamos entrar em contato direto com dois pontos centrais da narrativa.

O primeiro, é o jogo que a história faz com a quesão da dualidade. Esse jogo, é retomado em praticamente todos os pontos da narrativa, e também por praticamente todos os personagens. Porém, será com os Senhores da Sombra que terá maior ênfase - uma vez  que o destino deles termina por ser um reflexo do que será o de Gabriel. Afinal, os Senhores da Sombra não são só as antíteses de tudo aquilo que foram em vida antes de serem abandonados por aquilo que representava a sua parte boa, mas também são o produto de uma busca que, em seu âmago, era algo bom.

O segundo ponto, vem como consequência direta da descoberta de Gabriel, que poderíamos classificar, de certa forma, como um processo de perda da inocência. Depois da descoberta de que a própria Irmandade que o enviou para tal missão é a causa do problema, o mundo do jogo começa a se tornar cada vez mais sujo e escuro - algo que falaremos mais no próximo tópico - e isso acaba por se refletir no humor do protagonista, que, uma vez tendo perdido seu ideal, acaba se tornando cada vez mais lúgubre e sombrio, assim como seu novo mundo - algo que também será corroborado por seu gradual afastamento de sua esposa, Marie,que, não por acaso, sempre será retrada como vestida de branco.


Gráficos:



Não seria exagero afirmar que Lords of Shadow  tem um dos mais belos gráficos, assim como um dos melhores trabalhos de arte, da geração passada.

O apuro da MercurySteam  nesse quesito é mais do que evidente, tanto em seu cuidado com a apresentação dos personagens como em seu trabalho em dar vida aos incontáveis monstros que compõem o bestiário do título. Dos irritantes Chupacabras às ainda mais irritantes Náiades, dos Vampiros menores aos Necromantes; cada um deles tem vida e personalidade própria, algo bastante surpreendente se levarmos em conta que alguns deles são figurinhas carimbadas não só na franquia Castlevania, mas também da cultura popular como um todo. Outros, ilustres desconhecidos - ou estreantes - ganham representação de peso para fazer frente aos demais. Ainda no âmbito dos monstros, vale lembrar que boa parte deles foram extraídos diretamente do folclore europeu - à exceção dos Chupacabras, vindos da América Central. - e que sua variedade é realmente impressionante.

Dos personagens, saltamos para os cenários, que também não deixam nada a desejar. De ruínas de civilzações há muito perdidas ao magníficio castelo gótico que terá grande importancia no futuro, todos os cenários são elaborados com maestria, de modo que não é raro se perder muito tempo de jogo simplesmente contemplando a beleza de cada um dos cenários - algo bastante prejudicado pela escolha da câmera fixa.

Mas a verdadeira beleza dos gráficos do jogo se revela quando postos em justaposição com a narrativa, uma vez que a própria natureza dos cenários - da estrutura dos lugares, à iluminação propriamente dita - vai se tornando cada vez mais sombria e escassa, acompanhando não só o estado de espírito do personagem, mas também os rumos da própria história. Assim sendo, não é de se estranhar a grande contradição entre os primeiros níveis - todos muito bem iluminados com uma forte luz amarelada - e os últimos - iluminados por uma luz opaca, difusa e, acima de tudo, parca.


Som:



Fazendo jus aos títulos da Konami, Lords of Shadow possuí uma belíssima trilha sonora, conseguindo captar bem não só a natureza das fases, e de seus personanges, mas também se mantendo fiel ao espírito da época - algum ponto da idade média.

Outro ponto notável do quesito sonoro do jogo é o grande time de dubladores. Sir Patrick Stewart (mais conhecido como o Professor Xavier da franquia X-Men), atua como narrador  - e também como personagem - dando à todo o conjunto uma imensa gravidade - ainda que eu acredite que sua voz é sempre melhor aproveitada como o narrador do que como personagem. No centro do palco, temos Robert Carlyle (mais conhecido como Victor Renard do filme 007: O Mundo não é o Bastante, ou, sendo mais atualizado, como o Rumplestilskin, da série Once Upon a Time) no papel sempre contido, porém absurdamente expressivo, de Gabriel Belmont. Os grandes nomes não param por aí, indo de Natascha McElhone (a Lauren do Show de Truman) até a participação de Jason Isaacs (O Lúcio Malfoy da série Harry Potter) aparecendo ao fim do jogo.

No entanto, engana-se aquele que pensar que os excelentes desempenhos ficam apenas à cargo desse quarteto principal. A qualidade técnica é um dos principais aspectos deste quesito do jogo e, como comentário final, não custa nada relembrar o incrível, porém curto, desempenho de Ève Karpf  como Baba Yaga.

 


Jogabilidade:

 
 
Se há um problema com Lords of Shadow, ele se encontra em sua jogabilidade.
 
Não que ela seja problemática ou de difícil assimilação, mas sim por ser uma mecânia sem muita originalidade. De fato, o esquema de controles não é lá muito diferente de alguns clássicos da geração retrassada, como God of War, e mesmo alguns chefes não escondem sua "inspiração" de outro aclamado clássico do PS2, o Shadow of The Colossus.
 
Aliado à essa falta de criatividade, encontra-se um outro agravante, que é o fato de termos níveis bastante repetitivios. Basicamente, o jogo consiste em uma série de encontrar chaves, matar inimigos, abrir portas, matar mais inimigos, procurar uma outra passagem, matar inimigos, voltar pela passagem com outra chave e, no caminho, matar mais inimigos.
 
Outro pequeno problema que talvez possa causar uma certa estranheza em um primeiro momento, é a escolha pouco usual de círculos para os quick times events de algumas lutas. Para aqueles que não sabem o que é isso, imagine uma daquelas lutas de chefes durante algum God of War da vida - ou mesmo de algum outro jogo que passou a utilizar isso, como o Marvel Ultimate Alliance, ou até mesmo o Far Cry 3 - e que, ao fim destas, geralmente aparecia uma série de botões indicando a sequência a ser feita para finalizar o  oponente. Isso, é um exemplo de um quick time event. Mas, aos invés de usar algum botão específico para os seus eventos, Lords of Shadow opta por um sistema de dois círculos - um fixo, e outro que vai lentamente se tornando concentrico ao primeiro - dando ao jogador a liberdade de abertar qualquer botão para realizar a ação. Porém, este problema decorre mais da falta de costume, de modo que, após algumas tentativas frustradas, se é possível pegar o esquema da coisa.

 

Avaliação Final:

 
Apesar de alguns problemas com a jogabilidade, Lords of Shadow trás consigo mais acertos do que erros. Ao nos apresenta a uma história espetacular e brilhantemente narrada, unindo não só os elementos comuns da narrativa, como também os gráficos para reforçar seu efeito, se torna, uma experiência única e envolvente que, por mais que possa desagradar muito alguns fãs mais puristas, justifica e muito o clamor dos críticos ao redor do mundo como também dos fãs que criou em seu entorno.
 
Nota: 9,5