terça-feira, 31 de março de 2015

Além da Imaginação - Primeira Temporada

Desde os primordios da televisão, inúmeras foram as séries que por ela transitaram, obtendo os mais diversos resultados. Algumas conseguiram se tornar uma febre dentre de sua época, enquanto que outras amargaram um prematuro cancelamento. Mas também houveram aquelas que, atravessando a limitação da dimensão chamada tempo, conseguiram imprimir  uma marca tão profunda na cultura popular que ainda hoje permanecem vivas, seja na memória de saudosos fãs, seja nas produções que acabou por influenciar. Hoje, iremos falar sobre uma dessas séries.

Sem mais delongas, eu vos apresento, Além da Imaginação.




"Há uma quinta dimensão além daquelas conhecidas pelo homem. É uma dimensão tão vasta quanto o espaço e tão desprovida de tempo quanto o infinito. É o terreno intermediário entre a luz e a sombra, entre a ciência e  a superstição, e se encontra entre o abismo dos medos do homem e o cume de seus conhecimentos. É a região da fantasia. Uma região  Além da Imaginação."

Com estas palavras, Rod Serling apresentou ao mundo aquela que viria a se tornar a sua obra mais conhecida. Estreando em 2 de Outubro de 1959, a série iniciou sua  memorável carreira com o episódio "Onde estão Todos?" (Where Is Everybody?), no qual acompanhamos a inusitada situação de Mike Ferris, um homem que, não só não sabe onde está, como também não sabe quem é. Ao longo de sua jornada, ele se depara com a cidade de Oakwood que se encontra completamente deserta. Ainda assim, Ferris não consegue deixar de sentir a inquietante sensação de que está sendo observado. Desconcertado com o vazio da cidade, Ferris busca desesperadamente por qualquer pessoa que possa lhe explicar o que possa estar acontecendo.

Já nesse primeiro episódio, somos apresentados as principais características da série, não só técnicas como também narrativas. Com duração de 25 minutos - fato que se manteve durante os cinco anos da série, com exceção da quarta temporada, que teve episódios de uma hora cada -, cada episódio começava com uma breve introdução de Rod Serling , que visava apresentar ao espectador a história que estava para ser apresentada. Também ao fim do episódio, Serling retornava para apresentar sua conclusão, ou mesmo moral, aparecendo logo em seguida para dar a deixa para o episódio da próxima semana. Esse recurso de se utilizar um apresentador/narrador , talvez uma herança direta da era do rádio, também foi utilizado pelo grande Alfred Hitchcock em sua não menos conhecida Alfred Hithcock Apresenta (1955-1962).

Mas, numa época em que os efeitos especiais ainda engatinhavam, contudo, a verdadeira força da série se encontrara na narrativa.

No âmbito narrativo, veríamos histórias onde pessoas comuns repentinamente são jogadas em situações de caráter fantástico - seja ele o fantástico propriamente dito, ou algum de seus subgêneros, como a ficção científica ou mesmo o terror - e que sempre terminaria com algum tipo de plot twist, o que levaria ao fechamento conduzido pelo apresentador. O foco da narrativa, porém, sempre seria colocado nos personagens e em seu modo de reagir diante das situações em questão, sendo o fato em si apenas um gatilho para o desenvolvimento geral da história. Não à toa, não é raro vermos muitos episódios se utilizarem das situações fantásticas em caráter alegórico, abordando assim temas como a solidão, preconceito, guerras e tantos outros temas - incluindo alguns tabus para a época que, devido a forte censura, não teriam outra forma de serem debatidos na televisão.

De uma forma geral, podemos disser que a grande característica da série - e não menos importante que as acima citadas - era sua preocupação em entregar sempre uma história de qualidade todas as semanas. É, como diria o próprio Serling em sua proposta à CBS, "a série do contador de histórias", onde uma das melhores e mais afinadas equipes de roteiristas - que, além do próprio Serling, contaria neste primeiro momento com Richard Matheson, o autor de Eu Sou a Lenda, e Charles Beaumont -
que sempre entregaria ao espectador uma história que capaz de arrancar qualquer tipo de reação do mesmo - sejam elas positivas ou negativas - mas sem jamais conseguir deixá-lo indiferente com o que acabara de ver.

Hoje em dia, pode se dizer que esse efeito ainda se mantém - talvez mais em uns episódios do que em outros. Algumas histórias, contudo, permanecem tão atuais como no dia em que foram exibidas pela primeira vez nos primóridos da televisão. Se isso, contudo, é algo bom ou ruim, cabe o espectador decidir por si mesmo.

Como último adendo, existe um fato que deve ser chamado a atenção para espectadores mais recentes: Muitos desses episódios podem parecer até bem previsíveis, se não bastante batidos. Neste caso, peço que se lembrem que muitas dessas histórias foram feitas em 1959 e que, considerando a influência que a série teve,  não é muito difícil - ou improvável - que seja ela o local de origem dessa história que você já conhecia de outro lugar.

No mais, após ver a Primeira Temporada desta série, não é difícil entender o porquê de tamanha reputação. Para uma série de 1959, Além da Imaginação possuí uma qualidade que facilmente consegue colocá-la em pé de igualdade com muitas das séries de hoje em dia. Seja por sua aparente simplicidade, seja pelo simples prazer em contar suas histórias, esta série é uma parada obrigatória para todo aquele que gosta não só de uma boa diversão ou de uma história muito bem contada,  ou para aqueles que que gostam de conhecer um pouco mais sobre a cultura popular e a influência da televisão; mas também para todo aquele que deseja seguir uma carreira nessas áreas - seja como roteirista ou escritor - e, quem sabe, até mesmo para aqueles que desejam aprender - ou refletir - um pouco mais sobre a vida e os estranhos seres que por ela vagam. Essas e muitas outras podem ser respostas perfeitamente possíveis. Afinal, quem poderá dizer que tipos de conhecimentos alguém pode encontrar quando se atravessa a tênua linha entre o real e o imaginário, chegando assim nessa estranha região...além da imaginação.


Para encerrar a matéria,  seguirei o modelo da Sala Reclusa e darei a sugestão de 5 episódios dessa Primeira Temporada. Como em qualquer lista, esses 5 episódios são escolhidos de acordo com critério pessoal, de modo que você será bem-vindo a discordar ou discutir na sessão de comentários. Assim sendo, vamos lá:

5 - Um Negócio dos Anjos ("One for the Angels" ,9 de Outubro de 1959): Basicamente, temos aqui a história de Lou Bookman, um vendedor ambulante que acaba por receber um cliente indesejado: a Morte.

4 - Céu Aberto("And When The Sky Was Opened", 11 de Dezembro de 1959): O vôo de uma nave experimental é lembrado de forma diferente por um de seus dois tripulantes. Ou será que eram três?

3 - Tempo Suficiente ("Time Enough At Last", 20 de Novembro de 1959): Henry Bemis é um banqueiro e amante de livros. Esse seu gosto, contudo, não é partilhado pelos demais, o que leva o Sr.Bemis a desejar por mais tempo para poder ler em paz.

2 - Atirei uma Flecha no Ar ("I Shoot a Arrow into the Air", 15 de Janeiro de 1960): Uma nave de ponta caí em um asteroide desconhecido. Da tripulação de oito, apenas 4 sobrevivem - com um suprimento de água cada vez menor...

1 - O Monstro da Rua Mapple ("The Monsters are Due on Mapple Street", 4 de Março de 1960): Quando uma série de estranhos eventos passam a acontecer na outrora pacata Rua Mapple, é apenas uma questão de tempo até que os culpados passem a ser procurados...