Escrito por Lívia Costa
"Em
1975 as minas de Minessota contrataram pela primeira vez mulheres mineiras. Em
1989, ainda haviam 31 mineiros homens para cada mulher." É dentro dessa
realidade que o filme Terra Fria (2005) narra a vida de Josey Aimes (Charlize
Theron), uma mulher que em função de seu casamento fracassado retorna a sua
cidade natal. Como mãe solteira, para garantir o sustento dos seus dois filhos,
resolve encarar o desafio de trabalhar na maior fonte de emprego local: as
minas de ferro.
Longa de 2005 mantém firme a problemática do preconceito contra a mulher. (Divulgação) |
Entretanto,
as minas ainda são um ambiente masculinizado. Pela cultura do patriarcado e por se sentirem
ameaçados pela “ascensão" das mulheres, as recém contratadas sofrem abusos
psicológicos e sexuais diários pelos colegas e chefes. Não sendo difícil para
as expectadoras se identificarem em maior ou menor escala com a trajetória de
Josey Aimes.
O
filme, a todo instante, demonstra o sofrimento o qual as mulheres estão
expostas por serem consideradas inferiores aos homens. Algumas cenas, como o
momento em que Josey Aimes tenta pela primeira vez denunciar o assédio moral
sofrido ao seu chefe, mostram como os homens tentam se manter um uma posição
superior, desconsiderando as mulheres ou compactuando para que pareçam loucas.
Sem
maiores sutilezas o longa denuncia a farsa da mulher multifacetada nos momentos
em que o expectador tem acesso ao lar de Josey Aimes e percebe o desequilíbrio
emocional e a rejeição de seu próprio filho (Sammy) à figura da mãe. Assim como
os outros homens, ele também não aceita que Josey não lave e passe como as
"mães normais". Fica implícito que essa rejeição vai além, Sammy não
consegue aceitar não ter uma mãe presente.
Além
disso, a crítica ao assédio sexual é constante. O filme denuncia a cultura do
estupro e a normatização desse crime dentro da sociedade, que culpa a vítima e
pouco faz para punir o agressor ou agressores, fazendo a mulher se culpar e não
ter empatia pelas demais do mesmo sexo. Existe o medo dos homens, o que fica claro
pela falta de companheirismo entre as mineiras que não se unem contra o
machismo.
O
filme peca, porém, nos momentos de clímax serem protagonizados por homens.
Durante o discurso na assembleia do sindicato e no tribunal, as personagens
masculinas tomam a cena como protagonista e solucionam o problema, ganhando o
respeito dos outros homens. Para o expectador isso gera uma sensação de que sem
a ajuda deles as mulheres não conseguiriam, uma contradição para à proposta que
o longa traz de combater o machismo.