Um homem de lata melhor
que o Homem de Ferro... Pelo menos melhor que o Homem de Ferro 3, um policial
perfeito, o homem que faltou em Tropa de Elite e Tropa de Elite 2: O Inimigo
Agora é Outro, eis que o novo Robocop chega a Sala Reclusa. Salve, salve,
amigos da Sala Reclusa! Confesso que há tempos que eu esperava por esse filme,
para ser sincero, desde que a MGM anunciou José Padilha como diretor do remake,
eu já fiquei ansioso, muito pelo potencial que o brasileiro provou ter nos dois
Tropas de Elite e começava a imaginar o quanto de liberdade ele teria em solo
norte-americano, deu no que deu.
Robocop de José Padilha, mais político do que violento. (Divulgação) |
A história é um pouco
semelhante ao filme de 1987, sendo meio que mesclada com a sequência de 1990,
isso porque a história do policial Alex Murphy é contada (como acontece no
primeiro filme), mas suas principais lutas são contra as máquinas da OmniCorp (como
é mostrado em Robocop 2). O filme é sensacional! Já no início, Padilha mostrou
a que veio, o longa se inicia com o poderio bélico dos Estados Unidos, que,
mesmo em 2028, o país continua imperialista e “escravizando” os países do
Oriente.
Desta vez, o Irã foi cutucado,
as máquinas fazem vistorias no país para manter ordem e não ameaçar o mundo, no
caso, não ameaçar os Estados Unidos. Porém, nesse início, são visíveis os
problemas que os cidadãos estão passando, humilhados, escravizados, esquecidos.
Nesse mesmo início, estamos com o apresentador Patrick "Pat" Novak (Samuel
L. Jackson), um tanto quanto parcial e defensor das máquinas não só nos
arredores do planeta, mas sim no próprio país. Dessa batalha política, surge Raymond
Sellars (Michael Keaton), bilionário dono da OmniCorp, que quer colocar as
máquinas para circular no país, mas sofre do povo americano, principalmente do
senador Dreyfuss (Zach Grenier), que defende os humanos como policiais e
defensores das cidades.
O dilema homem e máquina, sua consciência acaba vencendo. (Divulgação) |
A corrupção e a
criminalidade tomam conta de Detroit, com exceção de dois parceiros policiais,
Alex Murphy (Joel Kinnaman) e Jack Lewis (Michael K. Williams), que resolvem
fazer justiça com as próprias mãos e não avisar ao resto da patrulha que estão
atrás do traficante de armas Antoine Vallon (Miguel Ferrer). O grande problema
é que Vallon tem acordos com a chefe de polícia Karen Dean (Marianne
Jean-Baptiste) e os dois acabam encurralados, Jack acaba baleado e Murphy sofre
um atentado, ficando entre a vida e a morte. No mundo da corporação OCP,
Raymond Sellars busca unir o útil ao agradável, colocando um ser humano em uma
máquina para formar o soldado perfeito, fazer com que o povo o apoie e assim,
ele consiga ganhar muito mais dinheiro.
Coube ao que para mim foi
o grande destaque do filme, Gary Oldman e seu excelente Dr. Dennett Norton,
buscar um policial fora de combate para reconstruí-lo na forma de um policial
robô, com as tecnologias da época, Norton faz um acordo com a esposa de Murphy,
Clara (Abbie Cornish), que topa salvar a vida do marido, nascendo assim o
Robocop. As cenas de ação ficaram muito boas, faltando um pouco da violência
dos Tropas de Elite e da trilogia Robocop, mas ficou claro que a proposta do
filme não é um filme de violência, e sim um choque político e filosófico, como
o próprio Padilha citou.
O fantástico é que o
público aclamou Sellars e o seu novo produto, fazendo com que a nova lei seja
apoiada pelo senado, mais uma prova de que o povo tem voz suficiente para mudar
os rumos de um país. Enquanto a sociedade vive uma diminuição na violência, a
família Murphy passa a conviver com um conflito contra a empresa OCP, Clara e
David Murphy (John Paul Ruttan) são impossibilitados de ver o marido e pai,
respectivamente. Dennet Norton, funcionário da empresa, não concorda com tudo
exigido por Sellars, mas termina cedendo por ser um mero funcionário, é o que
acontece, por exemplo, quando o doutor é obrigado a tirar um pouco da consciência
de Murphy, o tornando praticamente um robô. Detalhe, uma cena chocante é quando
Norton retira as partes robóticas de Murphy, não sobrou quase nada do antigo
policial.
Três gênios do cinema acabam ofuscando até o próprio Joel Kinnaman e seu Robocop. (Sala Reclusa) |
Apesar de mais robô do que
humano, de alguma maneira que nem Norton consegue explicar, Murphy começa a se
recordar das cenas da explosão, de sua família e daqueles que conspiraram
contra ele. A cena é espetacular, ele invade a polícia para interrogar e
denunciar dois corruptos que participaram do seu atentado, resultando na morte
de um e imobilização do outro, é lá que ele descobre que sua superiora, Karen Dean é a
grande mentora desse acordo que libera armas para o tráfico. Não sobrou
ninguém, Antoine Vallon até armou uma emboscada para o Robocop, mas o policial
perfeito, mais máquina que homem, acaba com todos e encerra o problema na sua
tentativa de assassinato.
No fim, as cenas cruciais
do filme, o momento em que a ganância de Raymond Sellars, mais uma vez, quer
passar por cima de todos, ele ordena que Dennet Norton desligue o Robocop, já
que a lei foi aprovada e as máquinas começariam a circular nos Estados Unidos.
Norton fica revoltado, mas primeiramente ele aceita, exigindo uma indenização a
família Murphy e também querendo ser embolsado. O dilema de homem e máquina
segue até o final do filme, onde muitos humanos se sensibilizam com a história
de Alex e o ajudam até o fim, Norton não desliga o robô e, ao contrário do que
se imaginava, ele lhe oferece a “liberdade”. Após lutar com máquinas, Alex fica
entre a vida e a morte contra o chato do capitão Rick Mattox (Jackie Earle
Haley), homem que treinou o Robocop, o seu antigo parceiro, Jack Lewis ajuda o
amigo e atira em Mattox, cena sensacional!
Por fim, o momento mais épico,
o criador Raymond Sellars e a criatura Alex Murphy, que só sobreviveu graças ao
investimento do empresário, duelam verbalmente na cobertura da Omnicorp, na
frente dos publicitários e soldados em defesa de Sellars e da família Murphy.
As cenas são tensas, Alex já está quase quebrado e ele não pode atirar no seu
dono, pois existe um comando que o impossibilita. Com armas apontadas uma para
a outra, Sellars e Murphy discutem e dois tiros ecoam para o temor dos que
ouviam a cena, um tiro atinge Murphy, que não pode morrer e sim pode ser
consertado e um tiro para Sellars, que acaba morrendo na hora, creio que tenha
sido a primeira poça de sangue nas duas horas do longa-metragem.
A história ficou muito bem
bolada, apesar da falta de ação em algumas cenas. Creio que a maioria dos fãs
ficaram satisfeitos, queria destacar o espetacular Samuel L. Jackson, que mesmo
não estando nas cenas com os principais personagens, foi um sucesso no filme,
mostrando o tanto que esses jornais alienam as pessoas, uma crítica ao modo
como os Estados Unidos veem os demais países. O destaque também vai para
Michael Keaton, que vinha um pouco sumido do mapa, foi muito bem como Sellars,
uma pena que ele não deva estar em uma possível continuação, se confirmada, é
claro. Por último, a impecável atuação de Gary Oldman, a cada filme, eu fico
mais admirado com as excelentes participações do britânico, o eterno Drácula, Sirius
Black e Comissário Gordon, ele é, sem dúvida, o grande destaque do filme.
José Padilha nas filmagens, o grande nome do cinema nacional. (Facebook) |
O fato é que Padilha
conseguiu criar um filme ao seu estilo, com todas as tecnologias e grande verba
dos filmes de Hollywood, ele pegou uma MGM em crise e pode fazer com que ela
volte a fazer bons filmes, começando pelo próprio Robocop. O que me deixou
bastante feliz foi à forma como ele criticou os erros do país, por exemplo, os
Estados Unidos, com seu comportamento imperialista/belicista busca impor a
“paz” por meio de armas (qualquer semelhança com o mundo real não é mera
coincidência), assim como ele fez no Brasil e foi muito elogiado, não perdendo
as suas características e não ganhando fama de vendido. José Padilha é uma das
poucas coisas boas do cinema nacional, boas não, espetaculares, confesso que
continuo torcendo por um melhor reconhecimento do próprio em solo
norte-americano, o Robocop ainda pode abrir portas, vão depender das vendas do
filme.
Vale lembrar que nem todo
filme bom é certeza de sucesso de vendas, é só observar que aqui no Brasil o
Homem de Ferro 3 foi o recorde de bilheteria de 2013, pobres telespectadores, talvez
Homem de Ferro também tenha sido o pior filme de 2013 ou pelo menos a grande
decepção. Robocop é um filme espetacular, nós da Sala Reclusa indicamos para
todos os fãs que curtam um bom dilema político sobre sociedades que de alguma
forma “escravizam” outras, sem falar das discussão entre homens e máquinas.
"Morto ou vivo, você vem comigo" (Divulgação) |
Nota:
9,5.
Um grande abraço!