terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Robocop – Resenha Crítica

Um homem de lata melhor que o Homem de Ferro... Pelo menos melhor que o Homem de Ferro 3, um policial perfeito, o homem que faltou em Tropa de Elite e Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro, eis que o novo Robocop chega a Sala Reclusa. Salve, salve, amigos da Sala Reclusa! Confesso que há tempos que eu esperava por esse filme, para ser sincero, desde que a MGM anunciou José Padilha como diretor do remake, eu já fiquei ansioso, muito pelo potencial que o brasileiro provou ter nos dois Tropas de Elite e começava a imaginar o quanto de liberdade ele teria em solo norte-americano, deu no que deu.
Robocop de José Padilha, mais político do que violento. (Divulgação)

A história é um pouco semelhante ao filme de 1987, sendo meio que mesclada com a sequência de 1990, isso porque a história do policial Alex Murphy é contada (como acontece no primeiro filme), mas suas principais lutas são contra as máquinas da OmniCorp (como é mostrado em Robocop 2). O filme é sensacional! Já no início, Padilha mostrou a que veio, o longa se inicia com o poderio bélico dos Estados Unidos, que, mesmo em 2028, o país continua imperialista e “escravizando” os países do Oriente.

Desta vez, o Irã foi cutucado, as máquinas fazem vistorias no país para manter ordem e não ameaçar o mundo, no caso, não ameaçar os Estados Unidos. Porém, nesse início, são visíveis os problemas que os cidadãos estão passando, humilhados, escravizados, esquecidos. Nesse mesmo início, estamos com o apresentador Patrick "Pat" Novak (Samuel L. Jackson), um tanto quanto parcial e defensor das máquinas não só nos arredores do planeta, mas sim no próprio país. Dessa batalha política, surge Raymond Sellars (Michael Keaton), bilionário dono da OmniCorp, que quer colocar as máquinas para circular no país, mas sofre do povo americano, principalmente do senador Dreyfuss (Zach Grenier), que defende os humanos como policiais e defensores das cidades.

O dilema homem e máquina,
sua consciência acaba vencendo. (Divulgação) 
A corrupção e a criminalidade tomam conta de Detroit, com exceção de dois parceiros policiais, Alex Murphy (Joel Kinnaman) e Jack Lewis (Michael K. Williams), que resolvem fazer justiça com as próprias mãos e não avisar ao resto da patrulha que estão atrás do traficante de armas Antoine Vallon (Miguel Ferrer). O grande problema é que Vallon tem acordos com a chefe de polícia Karen Dean (Marianne Jean-Baptiste) e os dois acabam encurralados, Jack acaba baleado e Murphy sofre um atentado, ficando entre a vida e a morte. No mundo da corporação OCP, Raymond Sellars busca unir o útil ao agradável, colocando um ser humano em uma máquina para formar o soldado perfeito, fazer com que o povo o apoie e assim, ele consiga ganhar muito mais dinheiro.

Coube ao que para mim foi o grande destaque do filme, Gary Oldman e seu excelente Dr. Dennett Norton, buscar um policial fora de combate para reconstruí-lo na forma de um policial robô, com as tecnologias da época, Norton faz um acordo com a esposa de Murphy, Clara (Abbie Cornish), que topa salvar a vida do marido, nascendo assim o Robocop. As cenas de ação ficaram muito boas, faltando um pouco da violência dos Tropas de Elite e da trilogia Robocop, mas ficou claro que a proposta do filme não é um filme de violência, e sim um choque político e filosófico, como o próprio Padilha citou.

O fantástico é que o público aclamou Sellars e o seu novo produto, fazendo com que a nova lei seja apoiada pelo senado, mais uma prova de que o povo tem voz suficiente para mudar os rumos de um país. Enquanto a sociedade vive uma diminuição na violência, a família Murphy passa a conviver com um conflito contra a empresa OCP, Clara e David Murphy (John Paul Ruttan) são impossibilitados de ver o marido e pai, respectivamente. Dennet Norton, funcionário da empresa, não concorda com tudo exigido por Sellars, mas termina cedendo por ser um mero funcionário, é o que acontece, por exemplo, quando o doutor é obrigado a tirar um pouco da consciência de Murphy, o tornando praticamente um robô. Detalhe, uma cena chocante é quando Norton retira as partes robóticas de Murphy, não sobrou quase nada do antigo policial.
Três gênios do cinema acabam ofuscando até o próprio Joel Kinnaman e seu Robocop. (Sala Reclusa)

Apesar de mais robô do que humano, de alguma maneira que nem Norton consegue explicar, Murphy começa a se recordar das cenas da explosão, de sua família e daqueles que conspiraram contra ele. A cena é espetacular, ele invade a polícia para interrogar e denunciar dois corruptos que participaram do seu atentado, resultando na morte de um e imobilização do outro, é lá que ele descobre que sua superiora, Karen Dean é a grande mentora desse acordo que libera armas para o tráfico. Não sobrou ninguém, Antoine Vallon até armou uma emboscada para o Robocop, mas o policial perfeito, mais máquina que homem, acaba com todos e encerra o problema na sua tentativa de assassinato.

No fim, as cenas cruciais do filme, o momento em que a ganância de Raymond Sellars, mais uma vez, quer passar por cima de todos, ele ordena que Dennet Norton desligue o Robocop, já que a lei foi aprovada e as máquinas começariam a circular nos Estados Unidos. Norton fica revoltado, mas primeiramente ele aceita, exigindo uma indenização a família Murphy e também querendo ser embolsado. O dilema de homem e máquina segue até o final do filme, onde muitos humanos se sensibilizam com a história de Alex e o ajudam até o fim, Norton não desliga o robô e, ao contrário do que se imaginava, ele lhe oferece a “liberdade”. Após lutar com máquinas, Alex fica entre a vida e a morte contra o chato do capitão Rick Mattox (Jackie Earle Haley), homem que treinou o Robocop, o seu antigo parceiro, Jack Lewis ajuda o amigo e atira em Mattox, cena sensacional!

Por fim, o momento mais épico, o criador Raymond Sellars e a criatura Alex Murphy, que só sobreviveu graças ao investimento do empresário, duelam verbalmente na cobertura da Omnicorp, na frente dos publicitários e soldados em defesa de Sellars e da família Murphy. As cenas são tensas, Alex já está quase quebrado e ele não pode atirar no seu dono, pois existe um comando que o impossibilita. Com armas apontadas uma para a outra, Sellars e Murphy discutem e dois tiros ecoam para o temor dos que ouviam a cena, um tiro atinge Murphy, que não pode morrer e sim pode ser consertado e um tiro para Sellars, que acaba morrendo na hora, creio que tenha sido a primeira poça de sangue nas duas horas do longa-metragem.

A história ficou muito bem bolada, apesar da falta de ação em algumas cenas. Creio que a maioria dos fãs ficaram satisfeitos, queria destacar o espetacular Samuel L. Jackson, que mesmo não estando nas cenas com os principais personagens, foi um sucesso no filme, mostrando o tanto que esses jornais alienam as pessoas, uma crítica ao modo como os Estados Unidos veem os demais países. O destaque também vai para Michael Keaton, que vinha um pouco sumido do mapa, foi muito bem como Sellars, uma pena que ele não deva estar em uma possível continuação, se confirmada, é claro. Por último, a impecável atuação de Gary Oldman, a cada filme, eu fico mais admirado com as excelentes participações do britânico, o eterno Drácula, Sirius Black e Comissário Gordon, ele é, sem dúvida, o grande destaque do filme.

José Padilha nas filmagens,
o grande nome do cinema nacional. (Facebook)
O fato é que Padilha conseguiu criar um filme ao seu estilo, com todas as tecnologias e grande verba dos filmes de Hollywood, ele pegou uma MGM em crise e pode fazer com que ela volte a fazer bons filmes, começando pelo próprio Robocop. O que me deixou bastante feliz foi à forma como ele criticou os erros do país, por exemplo, os Estados Unidos, com seu comportamento imperialista/belicista busca impor a “paz” por meio de armas (qualquer semelhança com o mundo real não é mera coincidência), assim como ele fez no Brasil e foi muito elogiado, não perdendo as suas características e não ganhando fama de vendido. José Padilha é uma das poucas coisas boas do cinema nacional, boas não, espetaculares, confesso que continuo torcendo por um melhor reconhecimento do próprio em solo norte-americano, o Robocop ainda pode abrir portas, vão depender das vendas do filme.

Vale lembrar que nem todo filme bom é certeza de sucesso de vendas, é só observar que aqui no Brasil o Homem de Ferro 3 foi o recorde de bilheteria de 2013, pobres telespectadores, talvez Homem de Ferro também tenha sido o pior filme de 2013 ou pelo menos a grande decepção. Robocop é um filme espetacular, nós da Sala Reclusa indicamos para todos os fãs que curtam um bom dilema político sobre sociedades que de alguma forma “escravizam” outras, sem falar das discussão entre homens e máquinas.

"Morto ou vivo, você vem comigo" (Divulgação)

Nota: 9,5.

Um grande abraço!