*Escrito por Lucas Freitas.
Saudações, fieis leitores!
Antes de qualquer coisa gostaria de desejar a todos um feliz 2014. Agora,
deixando de lado as formalidades, vamos falar sobre negócios, mais precisamente
sobre um dos filmes menos considerados do mestre Sergio Leone.
(Divulgação) |
Quando Explode a Vingança
- Crítica
Quando Explode a Vingança
(Duck, You Sucker, 1971) - também
conhecido por Era uma Vez na Revolução - se passa no México de 1913, bem
durante o período da Revolução Mexicana e nos narra a historia de Juan Miranda,
um assaltante de diligências cuja vida muda completamente ao encontrar o
irlandês Sean Mallory, um especialista
em explosivos procurado por envolvimento em atos de terrorismo na sua terra
natal durante uma série de confrontos pela independência da Irlanda. Juntos, os
dois terminam se envolvendo cada vez mais no processo de revolução, que cobra
de ambos um preço amargo e terrivelmente caro. Uma vez tendo estabelecido esse
ponto de partida, Leone começa a brincar com vários conceitos, em especial - e
de maneira magistral - com o conceito da própria revolução enquanto nos
apresenta uma interessante e divertida história.
É de fundamental
importância lembrar que Leone foi bastante criticado pelos diretores italianos
da época pela falta de uma posição política em seus filmes, e é neste filme que
Leone dá uma das mais contundentes respostas a todos os seus críticos, e é
justamente esse caráter de resposta que torna o filme uma obra-prima do
diretor.
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Primeiramente, ele
desconstrói a imagem do herói revolucionário. Juan Miranda nada mais é do que
um criminoso que foi atraído para a "grande causa" graças à astúcia
de seu companheiro irlandês, que soube manipular seu maior sonho - o de
assaltar o banco de Mesa Verde - em favor da causa revolucionária e que tenta,
sempre que possível, fugir da enrascada que se meteu. Não a nobreza em seus
atos, nenhuma ideia de altruísmo, nenhuma consciência moral ou social que o
impele a agir em favor dos fracos e oprimidos. Miranda é, em resumo um covarde
que faz o que faz porque é o necessário para sua sobrevivência, uma vez que não
lhe é possível fugir ou se entregar e permanecer vivo. Mas o golpe de
misericórdia vem quando Leone mostra que Miranda se torna uma lenda para o
povo, um herói admirado e amado por sua coragem e ousadia.
Não satisfeito, Leone vai
ainda mais fundo na questão e ataque a própria ideia da revolução.
Curiosamente, é o próprio Miranda, em uma acalorada conversa com o irlandês,
quem abre os olhos do companheiro sonhador para a verdadeira natureza da
situação, quem entrega praticamente toda ideia do filme - e, por que não, a
própria visão de Leone sobre o tema -. Nas palavras de Miranda (ou melhor, no
mais próximo que eu consigo me lembrar delas):
"Sabe, Existem dois tipos
de pessoas nesse mundo: as que leem os livros e as que os carregam. Aí, um dia,
as pessoas que leem os livros tem uma ideia e chegam para as pessoas que
carregam os livros e dizem: '-ei, vocês, sua vida esta horrível, vocês sofrem
muito, trabalham demais, vão lá e façam uma revolução' então, as pessoas que
carregam os livros vão para as armas, pegam no pesado e morrem enquanto aquelas
que leem os livros ficam na delas e esperam a poeira abaixar para poder assumir
tudo."
E é basicamente essa a
mensagem que ecoa em todo o filme. São os pobres que vemos serem fuzilados em
praça pública ante o olhar cruel do presidente no cartaz onde se lê que o mesmo
ama o seu povo. São os filhos e parentes de Juan Miranda que morrem durante a
invasão das forças do governo no abrigo dos rebeldes. Crianças, adolescentes,
homens e velhos, todos mortos em nome de uma revolução criada por outros. São
os pobres que são delatados pelo Dr. Villega, um dos cabeças da revolução, após
este ser preso e torturado. Em cada uma dessas cenas somos atingidos pela mesma
e ideia acompanhada sempre pela mesma pergunta: "então, valeu mesmo a
pena? Toda esse derramamento de sangue e violência...tudo isso para quê?"
As atuações são
fantásticas e comoventes, criando um belo e complexo quadro humano para o
drama. No entanto, é a atuação de Rob Steiger como Miranda que rouba a cena.
Steiger consegue criar um criminoso cínico e brutal, mas ainda assim bastante
simpático ao público, sabendo seguir o fluxo narrativo e dar o melhor de si em
cada cena. Se a cena que vemos é uma comédia, Miranda vira um palhaço gordo e
fanfarrão. Se a cena é um tiroteiro ou algum confronto, Miranda vira um
"homem sem nome". Se a cena é dramática, Miranda se irrita e comove
de acordo com o que lhe é necessário. Steiger consegue, em resumo, criar um ser
humano convincente e deixar o personagem na lembrança do espectador por muito
tempo.
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Em suma, "Quando
Explode a Vingança" é, antes de tudo, um filme-mensagem, que deve ser
visto com essa ideia em mente. Ainda assim, isso não impede que ele seja visto
e apreciado como um filme bastante divertido e bem feito, envolvente tanto pela
história em si como pelas excelentes atuações. Além disso, conta com o trabalho
do grande mestre Ennio Morricone na trilha sonora.
Nota
- 10