sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O Demolidor de Mark Waid - Resenha

Saudações, fieis leitores! Hoje vamos falar novamente sobre HQs, desta vez, o nosso tema será a aclamada série do Homem Sem Medo escrita pelo genial Mark Waid e com a demolidora arte de Paolo Rivera e Marcos Martín. Por isso, segurem-se, pois lá vem o...


DEMOLIDOR 

(Arte da Primeira Capa do Encadernado da Panini)




Poucos heróis tiveram um histórico tão barra pesada quanto o Homem Sem Medo. Ficar cego depois de um acidente na infância, ser treinado por um ninja, "ver" a mulher que você ama morta por seu arqui-inimigo, ter sua identidade secreta revelada pelo grande amor de sua vida, ser arrastado até o Inferno e se ver no meio de um processo penal promovido por Mefisto e Coração Negro com sua contra parte demoníaca atuando como advogado de acusação, ter seu diploma de advogado caçado, ver suas mais arraigadas crenças religiosas serem deturpadas e jogadas contra si por um lunático - e "ver" outra mulher que amava ser morta pelo mesmo inimigo, lutar contra um exército de ninjas, ter sua identidade secreta revelada publicamente, ser possuído por um demônio....bom, acho que já deu para ter uma ideia do que eu queria dizer.

De qualquer forma, desde que Frank Miller remodelou o personagem nos áureos anos 80 (se você nunca leu isso, pare o que está fazendo e corra atrás) dando a este um ar mais sombrio e maduro, essa parece ter sido a regra geral seguida por todos os roteiristas depois dele e, como consequência, o próprio personagem terminou entrando em uma série de tragédias pessoais que teriam feito o próprio Homem-Aranha parecer o Gastão.

Por um lado, essas tragédias deram pano para várias tramas ricamente elaboradas, mas por outro, começaram a levantar um certo questionamento: onde diabos aquilo ia parar? Quero dizer, todo poço tem um fundo, mas toda vez que Matt Murdock chegava no seu, ele conseguia cair ainda mais. Isso até a Marvel "matar" o personagem e dar o seu título para o Pantera Negra (?). Mas, como todo mundo que é morto na Marvel sempre volta - à menos que você seja o Tio Ben ou a Gwen Stacy, se bem que do jeito que a banda tá tocando daqui a pouco até eles vão voltar - não foi muito surpreendente descobrir que o bom e velho Defensor Destemido voltaria em uma série mensal, sob a batuta de Mark Waid e com a arte de Paolo Rivera que promoveram uma verdadeira renovação no personagem.

Primeiramente, Waid reintroduziu o conceito original do personagem. Entra o conceito original do personagem, o vigilante alegre e bem-humorado apresentado ao mundo por Lee e Everett e saí o sombrio e carregado personagem de até pouco tempo, remodelado por Miller. No entanto, se você acha que isso deu errado, pensou outra vez, pois o resultado funcionou soberbamente. Waid não só é um escritor genial, conseguindo prender e envolver o leitor, como tem uma esplêndida compreensão do arquétipo do herói - compreensão essa marca em todos os seus melhores trabalhos - sabendo o que funciona ou não para qualquer personagem, além de ter um feeling genial ao trazer um herói mais leve e alegre em um tempo onde a grande maioria dos heróis começa a seguir caminhos sombrios e violentos.

Outro ponto genial de Waid é optar por histórias "casuais", usando muito a história fechada - algo raro nos dias de hoje e que poupa o coitado do leitor de ter de comprar várias edições para não perder e o rumo da história - e fugindo o máximo que pode das amarras da cronologia, mas sem jamais entrar em contradição com a mesma. Outra sacada do roteirista para inovar ainda mais no roteiro é apresentar vilões estranhos ao universo do personagem, como o Mancha, o Garra Sônica e até mesmo o Toupeira - mas só no volume 2 da Panini. - colocando-o em situações das mais variadas.

Situações estas que são um prato cheio para o traço de Paolo Rivera. O artista experimenta como jamais foi feito com o personagem antes, levando seus poderes sensoriais ao ápice da arte gráfica, construindo painéis maravilhosos com o Sentido de Radar. A primeira aparição do Mancha, por exemplo, em que vemos o personagem pelos "olhos" do Demolidor, com o corpo parcialmente esburacado nos lugares onde os portais dimensionais se abrem  talvez seja a melhor prova que eu tenho para corroborar o que digo. A maneira como a apresentação do título é feita dentro das histórias também é bastante inspirado, lembrando muito os trabalhos fenomenais do grande mestre Eisner no Spirit. De certa forma, eu senti falta daquele traço que lembrava uma aquarela do Rivera - traço este que podemos ver na série Mitos Marvel, ou nas capas dos Livros do Destino. - mas mesmo um chato como eu precisa admitir que nem disso eu posso reclamar, uma vez que a arte em si está perfeita.

Outro elogio que precisa ser feito é à sabia decisão da Panini Comics de lançar essa série em encadernados, ao invés de colocá-lo no meio de algum de seus mixes. As histórias, de tão únicas não "funcionariam" em nenhum mix imaginável, além de serem tão boas que dá vontade de ler tudo em uma só tacada. Minha única reclamação é devida ao sumiço de algumas capas e à forma relativamente pequena como algumas das capas do segundo volume foram apresentadas. No mais, são só elogios à editora e o desejo de ver a série inteira sair por aqui.

Em resumo, essa série é fenomenal e eu a recomendo tanto para os fãs do personagem como para aqueles que apenas gostam de uma boa leitura.


Demolidor volumes 1 e 2 foram lançados pela Panini Comics. O Volume 1 tem 144 páginas e custa R$18.90; O Volume 2 tem 148 e custa o mesmo do volume 1.

Nota Final - 10