*Escrito por Felipe Leal.
Uma das surpresas do
cinema, entre tantas outras, é a repetição, por vezes inevitável, de temáticas
indispensáveis aos questionamentos mais profundos do ser humano. Se na década
de 60 Bergman e Antonioni nos presenteavam com duas trilogias, a do Silêncio e
a da Incomunicabilidade, respectivamente, é curioso notar que nem sempre essas
abordagens são ordenadas, e, por conchaves do destino, como é o caso dos 3
filmes que irei citar, cineastas cuja única semelhança é a genialidade podem
realizar filmes que se tocam, como conjuntos matemáticos perfeitos.
Confira, a nova sessão da Sala Reclusa. (Sala Reclusa) |
A Prisioneira (La
Captive, 2000), da belga Chantal Akerman, foi baseado no livro homônimo de
Marcel Proust, de mesmo nome do filme, cuja narrativa nos conta o romance entre
Simon e Ariane. Ele, dono de um luxuoso imóvel em Paris, vive com a avó e mantém
Ariane praticamente como uma prisioneira, não só das paredes de seu
apartamento, como também das suas vontades e desconfianças. Ele a segue, tem
crises de ciúme, quer saber onde vai e
com quem anda, contrata uma mulher para que ela não saia sozinha e, num pico de
obsessão - uma das cenas mais primorosas do filme -, desabafa, angustiado, que
queria saber também o que se passa em sua cabeça o tempo inteiro.
É o amor que desconhece
os limites entre a individualidade e a obsessão. É aí que entram os dois filmes
que, numa erupção de arrogância da minha parte, coloco lado a lado com A
Prisioneira: De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999) e Como Alguém
Apaixonado (Like Someone in Love, 2012), respectivamente de Stanley
Kubrick e Abbas Kiarostami, entre os sonhos, memórias, perseguições e obsessões
captados pelas lentes de suas câmeras, guardam o segredo (e por que também não
dizer a maldição?) do conflito que é o amor dividido entre duas pessoas.
Em entrevista concebida,
Chantal explica que Sylvie Testud, atriz à quem foi entregue o papel de Ariane,
praticamente implorou pela personagem, e que isso foi um sinal de que ela sabia
exatamente do que o filme queria tratar. Nos casos das 3 películas
supracitadas, foi a mulher a primeira a perceber que em um relacionamento
amoroso, por mais cruel que isso possa soar, a luta pelo ''tornar-se um só
ser'' é um sonho adolescente desgastante e fadado ao fracasso. O pertencimento
de um ao outro é ilusório: não existe ''meu'', e o desejo por um terceiro
elemento, quer praticado ou não, sempre permeará o inconsciente de cada
indivíduo.
A primazia do intimismo
hitchcockiano de Chantal, a atmosfera onírica e sensual de Kubrick e o realismo
áspero de Kiarostami não me permitem indicar um só filme, mas os 3 em conjunto,
para que se perceba e se extraia o melhor possível desse cinema que preza em
ser artístico no sentido mais estrito do termo, nos fazendo refletir e indagar
sobre questões surpreendemente cotidianas, com a finalidade mais pura do
aperfeiçoamento humano. Uma das surpresas do
cinema, entre tantas outras, é a repetição, por vezes inevitável, de temáticas
indispensáveis aos questionamentos mais profundos do ser humano. Se na década
de 60 Bergman e Antonioni nos presenteavam com duas trilogias, a do Silêncio e
a da Incomunicabilidade, respectivamente, é curioso notar que nem sempre essas
abordagens são ordenadas, e, por conchaves do destino, como é o caso dos 3
filmes que irei citar, cineastas cuja única semelhança é a genialidade podem
realizar filmes que se tocam, como conjuntos matemáticos perfeitos.
A primazia do intimismo
hitchcockiano de Chantal, a atmosfera onírica e sensual de Kubrick e o realismo
áspero de Kiarostami não me permitem indicar um só filme, mas os 3 em conjunto,
para que se perceba e se extraia o melhor possível desse cinema que preza em
ser artístico no sentido mais estrito do termo, nos fazendo refletir e indagar
sobre questões surpreendemente cotidianas, com a finalidade mais pura do
aperfeiçoamento humano.